Zigmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, professor universitário, radicado em Leeds/Inglaterra, considerado um dos principais intelectuais do século XX, faleceu no dia 9 de janeiro deste ano. Para muitos essa poderia ser uma triste notícia para 2017, logo em seu início. Porém, Bauman, considerado o seu exemplo de atividade, criatividade e produtividade* até os 91 anos, não poderia inspirar descontentamento, nem mesmo por ocasião de sua morte. O momento é de gratidão. O seu comentário sobre "felicidade" em entrevista (vídeo abaixo) concedida ao canal "Fronteiras do Pensamento" é uma sugestão para nossos planos de 2017.
Parece muito óbvio quando ele diz que “há muitas formas de ser feliz” e, portanto, “não é possível dar uma receita para a felicidade”. Mas, ao discorrer sobre os conceitos destino e caráter, desenvolvidos em seu livro “A Arte da Vida”, Bauman nos conduz a uma equação possível de ser resolvida em direção à plenitude tão desejada, por mais utópico que isso possa parecer.
Sendo o destino a representação do imponderável, do que está fora de nosso controle e o caráter, aquilo que podemos moldar, o pensador demonstra que as escolhas que faremos, entre as possibilidades que o destino nos oferece, serão determinadas pelo nosso caráter. E, como os tipos de caráter são muito diversos, cada ser humano buscará, através de suas escolhas, o seu mundo perfeito. Se a premissa pode ser assustadora a se considerar personalidades de caráter menos digno, que buscarão também pelos seus mundos "perfeitos", por outro lado, teremos a chance de manter nossa esperança de encontrar e construir o nosso mundo perfeito, fundamentado em premissas que julgamos elevadas e, ainda, moldando nosso caráter para que nossas escolhas nos tragam resultados salutares.
Penso que, ante essa perspectiva proposta pelo filósofo, o desafio de cada um seria, então, a definição das próprias convicções. O discernimento entre princípios intrínsecos pelos quais lutaríamos até a morte e as imposições exteriores baseadas muitas vezes em valores que, sim, fazem parte de mundos "perfeitos" mas de terceiros, que também estão convictos. Há algo de libertador na percepção de que não há um mundo perfeito mas milhões, tantos quantos forem os indivíduos do planeta.
Essa reflexão sobre “felicidade” é somente o final, o gran finale da entrevista. Vale a pena assistí-la na íntegra e se encantar com Bauman falando sobre modernidade líquida (conceito que o consagrou mundialmente), democracia, trabalho, individualidade, dentre outros temas analisados por esse grande mestre contemporâneo que pode ser uma inspiração constante em nossos projetos para 2017 e para nossas vidas... perfeitas.
Janeth Pereira - 27/01/2017
*Bauman escreveu mais de 50 livros. Mais de 30 publicados no Brasil. Em seu último livro, "Estranhos à nossa porta" (Zahar, 2017), o professor discutiu a crise da imigração mundial e o pânico por ela causado.
Link original: FRONTEIRAS DO PENSAMENTO - Entrevista concedida em 2012, em sua casa em Leeds, onde faleceu. http://www.fronteiras.com/videos/dialogos-com-zygmunt-bauman